Artesãs mineiras vão expor na sede da ONU, em Nova York

A avaliação dos projetos foi feita em quatro meses por várias entidades

Há 30 anos, Maria José Gomes, a Zezinha, faz bonecas de cerâmica na comunidade rural de Coqueiro Campos, em Minas Novas, na região do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais. A partir do barro, nascem a mãe amamentando o filho, a moça solteira e a noiva. Ainda surpresa com a notícia, Zezinha será uma das três artesãs mineiras que vai expor suas bonecas, em setembro, numa exposição na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos EUA. 

Com trabalhos em algodão e buriti, Gercina Maria de Oliveira, do Distrito Sagarana, em Arinos e Juracy Borges da Silva, que trabalha com a flor sempre-viva, na zona rural de Galheiros, próximo a Diamantina, também estão entre as 15 artesãs do Brasil que foram escolhidas entre as mais de cem inscrições para a exposição "Mulher Artesã Brasileira". A avaliação dos projetos foi da Associação Brasileira de Exportação de Artesanato (Abexa), do Programa do Artesanato Brasileiro do Ministério do Desenvolvimento e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).


Com ensino fundamental incompleto, sem renda fixa e sem a certeza de que vai ter dinheiro, Maria José Gomes, mais conhecida como a Zezinha do Vale do Jequitinhonha, diz que a família sobrevive com o artesanato das bonecas. "Mas as outras artesãs não sobrevivem; a maioria tem que plantar uma roça, fazer um serviço extra", conta. A confecção das bonecas é toda manual, sem técnica. "Começo do nada, não tem fôrma, pego um pedaço de barro e faço tudo da minha cabeça", conta Zezinha, com sensação de felicidade.

A arte de fazer a boneca vem de herança familiar. Zezinha aprendeu com a mãe, Maria, e foi aperfeiçoando de tanto fazer. "Tem a convivência com o cliente que aponta o defeito também", ensina. Com simplicidade, e a produção de 15 peças por mês, Zezinha nem imaginava participar da exposição. 

Nem Juracy Borges da Silva, que também nunca saiu do Brasil, esperava ser escolhida para expor na ONU. Juracy da Silva colhia sempre-vivas para depósitos, antes de migrar para o artesanato. Ela colhia as flores e recebia R$ 10 por quilo. "Agora, tiro um salário mínimo, às vezes menos de um salário por mês". 

Com a participação num grupo de 29 artesãs, Juracy da Silva usa todas as espécies de sempre-viva. Faz arranjo de mesa, árvores, buquês, porta-guardanapo, íma de geladeira e árvores de Natal. Os anjos, ela confecciona com sempre- viva e fibra de bananeira revestida de folhas. Os clientes são os turistas e a rede de varejo Tok Stock que compra arranjos de mesa e vai adquirir o porta-guardanapo feito de sempre-viva. 

Gercina de Oliveira, que participa do projeto Veredas - que ensina a tradição das fiandeiras e tecelãs - vive em Sagarana, distrito de Arinos, um assentamento de sem-terra que deu certo. Nos nove núcleos do projeto Veredas, cerca de cem pessoas trabalham com algodão e com o buriti. 

Centro Cape procura patrocínio

A presidente do Centro Cape e diretora do Mãos de Minas, Tânia Machado, que representa as artesãs mineiras, diz que ainda não tem o dinheiro para a viagem a Nova York (EUA), onde acontece a exposição "Mulher Artesã Brasileira", na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). "Estamos buscando patrocínio. São necessários cerca de R$ 10 mil" calcula. 

A exposição acontece durante a abertura da assembleia da ONU, com a participação de chefes de Estado de várias partes do mundo. "Setembro é o mês do Brasil nos Estados Unidos, é um momento especial", diz a executiva. Tânia Machado conta que queria fazer uma exposição apenas das mulheres mineiras. "Como estava complicado, o Centro Cape criou e levou para o Sebrae um projeto seletivo da mulher artesã brasileira". 

A presidente do Centro Cape explica que o critério de seleção das artesãs não foi apenas o produto representativo, mas as mulheres que tinham mudado a comunidade por meio do artesanato ou não. Foram quatro meses de avaliação dos trabalhos. "De Minas Gerais, temos trabalhos com a cerâmica, tecelagem e palha. É uma representatividade do artesanato mineiro", conta Machado. 

Além da exposição, serão feitos um vídeo e um livro em português e inglês sobre as artesãs. "Não é só a exposição, é uma projeção da arte delas". Cada uma vai levar até três peças. "Minas Gerais está muito bem. São exemplos como esses que levam os outros artesãos a quererem ir também". 

Fonte: O Tempo

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